segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Memorial de Leitura

MEMORIAL DE LEITURA

“O narrador conta o que ele extraí da experiência sua

própria ou aquela contada por outros. E, de volta, ele

torna experiência daqueles que ouvem sua história.”

(Walter Benjamin)

Iniciei minha vida escolar aos 06 anos de idade numa banca de escola que era vizinha a minha casa na cidade de Santo Antonio de Jesus interior do estado da Bahia. A profª Gilda, amiga de minha mãe era uma profª leiga, severa que tinha uma grande motivação de alfabetizar crianças. Aprendi com ela as primeiras letras e, consequentemente o processo de aquisição da leitura e escrita. Ela elogiava-me dizendo a meus pais que eu era muito inteligente e interessada e aprendia sem dificuldades. Posso afirmar que fui muito bem alfabetizada, apesar daquela professora não possuir a qualificação devida e no estilo tradicional baseado exclusivamente no estudo da cartilha ela pode me ensinar também, o mais importante, que é gostar . ter o prazer em adentrar a esse mundo da leitura e escrita.

Aos 07 anos de idade ingressei numa escola pública de ensino fundamental, onde estudei as séries iniciais e tive professores excelentes que me deram muita motivação, também com a convivência dos livros.

Eu cresci num ambiente familiar e escolar ouvindo sempre elogios a minha inteligência e interesse pela vida escolar. Isso pra mim foi um alicerce importante, pois quanto mais as pessoas teciam comentários positivos, mais crescia a minha responsabilidade de dar o melhor de mim.

As séries subseqüentes também, tive excelentes professores que me estimularam bastante o gosto pela leitura. Eles trabalhavam com grandes escritores da literatura brasileira e estrangeira como Monteiro Lobato, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Aloísio de Azevedo, Paulo Coelho, Nieztiche, entre outros que marcaram bastante minha trajetória colegial. Além da gama de livros indicados eram sugeridos também, revistas como Exame, Isto é, Veja, Globo rural, Superinteressante. Na verdade, eram leituras bem encaminhadas e por isso mesmo, significativas. Por conta disso desde sempre, obtinha as melhores notas da turma e era convocada pelos professores para monitorar os outros colegas.

Meu encanto pelos livros e consequentemente pela Língua Portuguesa me levou a fazer, claro, o curso de Letras Vernáculas com Inglês. Nesse curso pude agregar conhecimentos práticos aos teóricos e continuar nessa maravilhosa saga de leitora. Vários foram os livros lidos e sugeridos pelas disciplinas do curso. Mas, lembro-me do professor de literatura inglesa que me indicou um escritor que foi apontado como um marco clássico da literatura norte-americana, Edgar Allan Poe. Li , alguns livros desse escritor que eram interessantes e arrepiantes pelo seu romantismo negro e sua literatura de ficção científica e fantástica de mistérios e suspenses e que marcou bastante a minha caminhada como leitora.

“Lembrança puxa lembrança e seria preciso um

escutador infinito”. (Alfredo Bosi, 1995)

Devo destacar também, a minha experiência como docente nas escolas públicas da rede estadual e municipal, que influenciada pelos meus professores tento fazer mesmo trabalho de despertamento outrora vivenciado. Devo afirmar que é um desafio, na verdade, em meio a concorrência e competitividade dos meios tecnológicos oferecidos aos nossos alunos nessa geração.Mas com estratégias e metodologias de trabalhar com projetos de leitura vou desbaratando essa grande barreira hoje, nas escolas com o fator leitura.

Salienta-se no entanto, o meu trabalho desde de 2001 como formadora do Programa GESTAR que proporcionou adentrar mais ainda nesse fenômeno que é a nossa língua materna. Devo dizer com isso da necessidade proeminente de buscar e pesquisar e ler fontes de livros técnicos para o aperfeiçoamento desse trabalho. Sinto-me agraciada e gratificada com depoimentos de professores cursistas que falam do meu trabalho de incentivo a leitura deles próprios e dos seus alunos. Isso deve a formação proporcionada pelo Programa que está relacionada com o desenvolvimento da identidade desse profissional que ajudamos a formar e uma maneira de isso acontecer é levá-lo para o mundo da construção dos sentidos pela leitura.

Devo concluir afirmando que a leitura pra mim sempre representou e representa o maior grau de importância na minha formação e crescimento intelectual e crítico dentro da sociedade. Nesse sentido penso a leitura como uma atividade que permanece, ou seja, que atravessa o tempo, em continuidade, em repetição em compulsão. “Por isso, o aprender da leitura dá, às vezes, a impressão de que não se aprendeu nada”(LARROSA,2003, p.146), sempre teremos algo para ler, para investigar, para aprender. Em síntese, tenho o conceito de leitura como diálogo, como prática dialógica de apreensão de vozes do Outro (BAHKTIN,2003), que além de fornecer ao leitor subsídios para uma ação reflexiva, permite-lhe o desenvolvimento de sua autonomia como ser situado nos vários contextos do qual faz parte.

Sônia Cristina Santos Scavello Guimarães

Prof. Formadora do GESTAR/Bahia

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Um comentário:

  1. Que trajetória! O ambiente e os professores são muito marcantes nas nossas vidas, aliás, penso que são estimulantes e por vezes decisivos. Que linda história de vida permeada de pessoas e livros. Bjs

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